História Vocacional
Louvando e bendizendo a Deus por ter me criada
mulher, sou filha de Artur Birck e Carolina Barth Birck, nascida aos 30 de
agosto de 1934, na Linha Tremônia, no município de Cerro Largo. Meus pais foram
agraciados com 9 filhos, sendo eu a segunda filha na ordem dos irmãos. Quando
tinha 3 anos, os pais fixaram residência na Linha Boa Esperança, também no
município de Cerro Largo, onde passei a infância e juventude, até a entrada no
convento das Filhas do Amor Divino, em Cerro Largo, no ano de 1950.
Por ter sido a primeira menina da
família, recebi várias responsabilidade já desde pequena. Até os 10 anos, além
dos trabalhos caseiros, coube-me o cuidado dos maninhos menores e, nos fins de
semana, junto com o mano mais velho, nossa tarefa era a de levantarmos os pinos
do bolão, pois o pai havia comprado esse bolão com um salão de baile. O
interessante para nós era que, no final da tarde de domingo, o pai nos dava um
níquel e cada qual colocava numa latinha.
Eram destinados a formar um fundo que o pai colocou em nossos nomes em
caderneta de poupança, na Caixa Econômica Rural, em Cerro Largo. A minha
poupança serviu mais tarde para pagar o dote de entrada na Congregação das
Filhas do Amor Divino, antes de fazer meus primeiros votos.
O que mais me marcou dessa época
foram os bailes com os quais eu me divertia atirando farinha e farelo no salão
e aproveitava para dar algumas voltinhas entre os bailarinos. Muitas vezes,
quando eu devia varrer ou limpar o salão, me imaginava estar com alguém, então
eu cantarolava alguma música e dançava, em vez de fazer a limpeza que a mãe me
incumbia. Sonhos de menina!
Lembro ainda da noite em que os
pais fizeram o negócio da venda do salão e do clube. De tanta alegria não pude
dormir, pois terminara a “minha prisão”. E, como um passarinho livre, pude,
unicamente, passear com as amigas aos domingos. Foi então que minha vida ficou,
acentuadamente, mais agrícola, pois passamos a trabalhar na roça e no trato com
animais.
Se alguém me perguntava o que eu
queria ser depois de grande, a resposta sempre era espontânea – quero ser irmã –, embora até essa
idade não havia visto nenhuma irmã e, muito menos, havia promoção vocacional na
época. Porém, como Deus chama onde e a quem quer, foi fortalecendo em mim a
convicção de ser irmã.
Contando 11 anos, os pais
permitiram que eu fosse para o internato das Irmãs, em Cerro Largo. Lá fiquei
por dois anos, fazendo o exame de admissão e alguns cursos práticos como:
costura, cozinha e trabalhos manuais. Como não havia continuação de estudos,
retornei para a casa paterna em 1947, ajudando os pais, novamente, no que era
necessário. Apesar de manifestar o desejo de ser irmã, comecei a freqüentar os
bailes com 13 anos incompletos. Ninguém acreditava no meu desejo. Eu mesma
comecei a duvidar e acho que o Cristo Rei deu um jeito. Era o baile do “kerb”
de 1949, festa do padroeiro da localidade. Numa dança nós enroscamos em alguém
e caímos no chão. Ao levantar, passou-me a idéia de nunca mais ir ao baile, o
que de fato aconteceu.
Comecei, então, seriamente, a
pensar em seguir a vida religiosa e pedir para ir ao convento, no que os pais
concordaram. Foram os únicos a darem apoio e disseram: Se tu queres ser
irmã, podes ir porque nós não precisamos do teu trabalho. Nós vamos
fazer o que podemos e o resto vai ficando. Só não nos faças passar vergonha. E,
se não queres ficar lá, volta para casa. Mas, a vizinhança me
desaconselhava e era tropeço na minha decisão.
Assim sendo, no ano seguinte, em
fevereiro de 1950, eu parti da casa paterna e me apresentei como candidata. Ao
chegar no convento, a mestra me considerou muito nova e mandou-me ao Colégio
Anunciação onde iniciei os estudos do Curso Artesanal com a duração de 2 anos.
Após esse curso, iniciei a minha caminhada formativa na vida religiosa:
juvenato, postulantado e noviciado. No segundo ano de noviciado a vida mudou
completamente, pois fui transferida para Uruguaiana, onde, residi na Creche
Nossa de Lourdes, atendida pelas Filhas do Amor Divino, e fiz o Ginásio no
Colégio das Irmãs de Nossa Senhora do Horto.
Foi nessa creche onde fiz a
experiência de sair a esmolar para
ajudar na subsistência das crianças. Entre duas irmãs, íamos nós para a
grande Ponte Internacional que liga Uruguaiana à cidade de Libres, fazer
pedágio como hoje se diz. Outra experiência vocacional que muito exigiu de mim
foi a incumbência de ir de casa em casa cadastrar sócios que pudessem ajudar no
sustento mensal da creche. Como sempre, em
algumas casas, era bem recebida e em outras, ouvia palavras
ofensivas, mesmo contra as mães das crianças da creche, taxadas de prostitutas
e que recebiam apoio das Irmãs. Hoje lembro desse momento de minha vida com
carinho, pois tudo quanto fiz e ouvi, foi por amor dos pequenos.
No dia de meus votos perpétuos,
em 1959, recebi a transferência para a cidade de Ijuí. Iniciei, então, a minha
fase de itinerância, isto é, contínuas transferências, mudanças de incumbências
e serviços em diversos lugares.
Ao olhar para minha caminhada
preciso afirmar que ela foi impregnada de otimismo, de entusiasmo e de realização pessoal e
profissional. Fui bastante maleável às mudanças contínuas e, nesse mar da vida,
naveguei por ondas assustadoras: o medo de fracassar e de dar um passo errado
me assustava. Porém a voz de Deus falou a fala na hora certa, mas como Ele é o
escudo, a proteção, a força e a coragem sempre consegui sair dos labirintos das
dúvidas, da incompreensão, do desânimo e sentir-me útil, gratificada por ter
dado tudo de mim com dedicação e amor. O sofrimento amadureceu o meu caráter e,
quando se fechavam as portas, o Senhor abriu grandes janelas na minha
caminhada, o que ainda me faz rezar obrigada, meu Deus!
Que o bondoso Pai derrame, cada
dia, suas graças sobre o meu caminhar e me mostre o caminho por onde devo
andar, a fim de que, na fidelidade à minha consagração, possa servi-lo até o
fim. Amém!
Ir.
Anita Birck FDC
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